Emília: Um diálogo entre a razão e a imaginação
- cienciaeculturagp
- 8 de out. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de out. de 2019
O capítulo analisado propõe uma retomada das ideias de João Zanetic. Nesse sentido, o autor traz uma associação entre ciência cultura e arte por meio da literatura, trabalhando aspectos centrais das obras do Monteiro Lobato, especificamente “a chave do tamanho”. O intuito do autor é discutir ciência por meio do olhar da Emília, levando em consideração a imaginação e a fantasia como elementos norteadores.
O autor traz em sua discussão a dúvida como elemento impulsionador da construção do conhecimento. Nesse sentido, a curiosidade, o raciocínio, o “porque não?” e os questionamentos sobre a outra possibilidade desafiam a razão e ao aliar-se à fantasia, tornam-se alternativas razoáveis à chamada “ciência dura”. Contudo, vale destacar que o autor não propõe um uso irracional da fantasia, mas que ela seja utilizada como uma forma diferente de encarar os fatos.
Um ponto marcante trazido pelo autor sobre a obra de Lobato é a antecipação do futuro, pois são apresentados diversos elementos muito à frente de seu tempo, como por exemplo: A domesticação de formigas, a mudança na forma de ordenhar as vacas, a receita de “fabricar” gente, dentre outros. Ao trazer o olhar Emiliano para demonstrar essa característica o autor aponta que há uma lógica bastante simples nos pensamentos da Emília, mas, essa lógica normalmente não é pensada, causando espanto para aqueles que se mantinham em uma visão mais formal e metódica.
No episódio “A chave do tamanho” fica muito clara a capacidade da boneca de elaborar hipóteses. Ao questionar sobre a existência de uma chave das guerras, sobre o motivo de sua diminuição de tamanho e se isso havia acontecido também com toda população; ela nos dá uma pista de como a ciência pode ser produzida. O levantamento de hipóteses e a formulação dos mais diversos problemas podem nos guiar nesse processo de descoberta científica, mostrando uma possibilidade mais flexível e igualmente interessante.
O autor trata ainda da dificuldade de se pensar situações sob uma perspectiva diferente daquela que o indivíduo se encontra. Demonstrado no texto de Lobato pelo episódio em que ao diminuir drasticamente de tamanho, um gato acaba por devorar sua própria família confundindo-os com insetos, Lobato nos chama atenção para necessidade de se desapegar de tantas certezas e se permitir enxergar a realidade em que se encontra. Nesse capítulo, de acordo com o olhar do autor, esse pensamento dinâmico e fantasioso da Emília lhe permite uma postura confortável com a nova realidade, amenizando o choque de lidar com pensamentos muito divergentes.
Outro ponto destacado no texto é a possibilidade de criação de uma nova sociedade. O personagem Dr. Barnes enxerga a redução de tamanho das pessoas de modo muito esperançoso. Parece ser uma oportunidade de criar uma nova sociedade diferente daquela existente na atualidade, que segundo ele foi corrompida pelo avanço e progresso. Esse episódio leva os personagens a sonhar com um recomeço. Sem os horrores da guerra e sem matanças desenfreadas. Nessas entrelinhas, o autor nos permite pensar sobre os impactos do uso da ciência e sobre seu papel na sociedade.
Para o autor, a Emília representa o saber científico de forma mais dinâmica e contextualizada, já que ela tenta colocar em prática aquilo que conhece em teoria. Para ele, a Emília exerce um papel daquilo que deve ser desenvolvida pelo pesquisador em ciência, que a romper com a ciência nos moldes mais tradicionais como aquelas discutidas por Visconde e Dona Benta, utiliza-se da imaginação como elemento norteador para essa construção.
Escrito por Joana Soares
SILVEIRA, Marcelo Pimentel da. As reinações de Emília e o mundo da ciência. In: Física, Cultura & Ensino de Ciências. André Ferrer P. Martins (org). Editora Livraria da Física. 1°ed. 2019.
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